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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

"CADA MORDIDA UMA SENTENÇA!"

Pode lhe parecer estranho, mas uma simples dor de cabeça, muitas vezes, acaba revelando sérios problemas dentários. A princípio, parecem assuntos totalmente distintos. E seriam, se não houvesse uma íntima relação entre os músculos da mastigação e os músculos da cabeça.
Todo o nosso crânio é envolto por uma camada de músculos. Estes, por sua vez, se estendem até a mandíbula, mantendo-a em posição e fazendo os movimentos de abertura e fechamento da boca, basicamente.
Nossos dentes tem formatos específicos não à toa. A superfície dos dentes do fundo, normalmente é cheia de reentrâncias, o que chamamos de sulcos, e “pontas”, as chamadas cúspides, para poder triturar, macerar os alimentos. Já nos dentes da frente, encontramos uma borda semelhante a uma lâmina de faca, cuja função é, justamente, cortar os alimentos.
Teoricamente, os dentes de cima deveriam interagir com os dentes de baixo, através dos sulcos e das cúspides, como uma engrenagem. Isso seria a oclusão perfeita.
Mas como se trata do corpo humano, e os seres humanos são conseqüência de uma mistura de raças, nem tudo é perfeito. Mais de 80% da população brasileira apresentam falhas nessa engrenagem, ou o que chamamos de desordens de oclusão.
Muitos são os fatores responsáveis por essas desordens. Porém, uma conseqüência é certa: a dor.
Quando, por exemplo, você acaba de fazer uma restauração e percebe ela “alta”, se nada for feito a respeito, a sua engrenagem não vai funcionar como deveria, pois haverá um ponto no dente que receberá uma maior carga mastigatória.
Na ponta das raízes dos dentes, existem terminações nervosas. Quando um dente apresenta um ponto de maior carga mastigatória, essas terminações nervosas “avisam” o nosso cérebro através da sensação de dor nesse dente. Sem que nós percebamos, ao mastigar e deglutir, sim, porque no momento da deglutição também ocorre a engrenagem dos dentes, e imagine você que, durante o dia, deglutimos em média 2500 vezes, desviamos, milimetricamente, a mandíbula, na tentativa de “proteger” o dente “alto”. Isso causa um enorme desarranjo muscular e conseqüentemente uma grande dor de cabeça.
A “restauração alta” não é a única causa de desordens de oclusão. O bruxismo e o apertamento dental também são causas extremamente importantes. As ausências e as más posições dentais também fazer com que a engrenagem funcione incorretamente, ocasionando dor.
Mas o que fazer para manter o bom funcionamento da nossa mordida e conseqüentemente a ausência de dor?
No caso da restauração alta, você deve comunicar seu dentista a respeito e não deixar seu consultório até que se sinta confortável. Não aceite, em hipótese alguma, o argumento de que: “Com o tempo você acostuma.” Porque isso é uma verdade, você acostuma mesmo, porém a sua musculatura não e o que é pior, você passa a sofrer com fortes dores de cabeça.
As ausências e más posições dentais, muitas vezes quando corrigidas com aparelhos, não causam mais danos ao sistema mastigatório.
Já o bruxismo e o apertamento dental, aparentemente não têm cura, uma vez que as causas estão intimamente relacionadas com o estresse.
Entendemos por bruxismo todo movimento, involuntário, excessivo para os lados. É o famoso “ranger os dentes”. Normalmente acontece durante o sono, por isso é muito comum o paciente que apresenta bruxismo acordar com cansaço e/ou dores na região das maçãs do rosto. Além disso, o companheiro do paciente normalmente relata ouvir o barulho dos dentes rangendo. Clinicamente podemos observar desgastes das pontas de cúspide dos dentes do fundo. O apertamento dental compreende o movimento involuntário excessivo ao longo do dente. É como se o paciente ficasse forçando os dentes, uns contra os outros, o tempo todo. É mais comum acontecer durante o dia, enquanto o paciente está fazendo alguma atividade. Por isso, geralmente, ele relata dor de cabeça no fim do dia. Também pode ocorrer durante o sono.
Há mais ou menos 10 anos eu sofria de dores de cabeça constantes. Sempre ao final do dia, com grande sensibilidade a luz e barulhos, necessitando ficar deitada num quarto escuro. Analgésicos dificilmente eram eficazes. Procurei um neurologista pensando se tratar de enxaqueca. Me submeti a vários exames de imagem e nada foi observado. Numa conversa informal com um grande amigo dentista e profundo conhecedor das desordens de oclusão, ele sugeriu que eu o fizesse uma visita. Fui diagnosticada com apertamento dental. Ele propôs que eu usasse uma placa miorrelaxante (placa que relaxa a musculatura). A partir do primeiro dia que comecei a usá-la, nunca mais sofri com aquelas dores de cabeça. Isso me fez estudar bastante o assunto e começar a aplicar aqui no meu consultório. Pude comprovar, ao longo de 4 anos, nos meus pacientes, que o uso de placas miorrelaxantes traz resultados bastante satisfatórios. Além de evitar os desgastes nos dentes, não permite que haja contato entre eles, por isso causa um relaxamento muscular, eliminando completamente a dor.
Portanto, se você sofre constantemente de dores de cabeça, cansaço quando acorda, ou até mesmo dores nas costas aparentemente sem causa, procure seu dentista. Sua mordida pode estar o sentenciando à dor!
Um beijo grande
Dra. Jú

1 comentário:

  1. Excelente texto! Esse assunto é super sério, e AINDA pouquíssimo divulgado. Tomara muita gente leia! BEIJOS!

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