quarta-feira, 10 de novembro de 2010

AH, A IMBRA...

Tinha prometido, à mim mesma, que não iria me pronunciar à respeito desse fato, afinal, trata-se de um assunto polêmico que muitas vezes pode beirar o anti-ético. Entretanto, não me contive. E não me contive justamente pela polêmica do assunto. Que paradoxo, não?! Pois então...
O que você vai ler, a partir de agora, é a opinião de uma dentista que sempre teve RESPEITO por seus pacientes.
Ao meu ver, o grande erro da IMBRA foi, justamente, tratar a odontologia como um negócio. Não que ela não seja, mas talvez a empresa tenha se esquecido que o negócio tem que ser bom para as duas partes: contratante e contratado.
A grande sacada de marketing da IMBRA foi oferecer tratamento odontológico de qualidade à todas as classes sociais, viabilizando um tratamento que não é barato. E como nossa economia está crescendo e permitindo que as classes mais baixas tenham acesso aos produtos e serviços das classes mais altas, foi um prato cheio para a empresa.
De acordo com relatos de colegas e pacientes, o tratamento era realizado por uma grande equipe de profissionais. Seria maravilhoso se todos os profissionais falassem a mesma "língua". Entretanto, o paciente chegava à empresa e era avaliado por uma equipe de dentistas treinados para vender e, como todo vendedor, com metas à cumprir. O grande problema não estava aí, e sim no fato de que o profissional avaliador/vendedor NÃO era o mesmo que iria executar os procedimentos.
Resultado: como haviam metas à serem cumpridas, muitas vezes haviam mais procedimentos vendidos do que o real necessário. E é nesse ponto que vejo o desrespeito com o paciente.
Espero, sinceramente, que isso sirva de exemplo à nossa classe, pois várias empresas com “formato” IMBRA continuam surgindo por aí. Não existe problema em vender os serviços odontológicos, desde que o respeito ao paciente seja mantido!
E à você, paciente, fica uma dica: hoje a grande maioria dos consultórios particulares, inclusive o meu, disponibiliza para vocês conforto, tecnologia, condições de pagamento, além de uma odontologia com qualidade e respeito.
Um grande beijo
Dra. Jú

11 comentários:

  1. Ju, tudo bem?

    A esposa do meu pai é dentista e passa por dificuldades possivelmente comuns a muitos de vocês que insistem em manter consultório próprio.. daqueles que íamos quando éramos adolescentes, para colocar aparelho e arrancar uma cárie.

    Estou inclusive tentando ajudá-la, tentando colocar em prática algumas das abobrinhas gerenciais que aprendo e ensino como pós-graduando em contabilidade.

    A profissão de vocês passa por um dilema mesmo... o serviço tem um custo aos profissionais, maior ou menor a depender de fatores diversos, da expectativa de ganho do dentista x experiência e capacidade de cobrar, à especificidade do tratamento, material necessário, tecnologia envolvida. As pessoas que precisam do serviço, por outro lado, naturalmente têm dificuldade de avaliar corretamente a relação custo/benefício, pois justamente não são dentistas e não saberiam dizer com certeza se estão recebendo um bom ou mau serviço, se estão caro ou barato por aquilo.

    Aí, no meio do caminho entre ambos, as maravilhosas, bonitas, bem marketeadas e .... BARATAS empresas do ramo.. As imbras, bradescos e similares. Ah, que maravilha. Que dizer que posso pagar R$ 15 por mês e ir no dentista quantas vezes quiser?? Fazer tudo o que for necessário e ainda fazer cara feia para o dentista?? Mas é claro que quero isso, que maravilha.

    Ju, é óbvio que vocês vão ficar nas mãos dessas empresas... ai de você se não aceitar convênio, seu consultório ficará às moscas.

    Eu tenho duas opiniões mais fortes sobre isso, de como se poderia potencializar a atividade de profissional liberal de vocês.

    1-Em âmbito individual: vocês têm que aprender a fazer contas, a calcular custos, a pensar no consultório como negócio e a analisar a cada procedimento e cliente se estão ganhando dinheiro ou não. Horrível, né... pensando de administrador, sanguessuga, mercenário... tb acho, mas é isso ou estar sempre sob o risco do negócio quebrar... e aí, quem quebra é a pessoa, o profissional, pois o indivíduo e o consultório é praticamente a mesma coisa.

    Quanto a isso, estou ajudando a esposa do meu pai; quem sabe em breve posso relatar alguma experiência, boa ou má, por enquanto estamos só começando.


    2-Em âmbito geral: os profissionais têm que se juntar, têm que se organizar, se unir.. é claro que vão ficar à mercê dos convênios, pois eles são bem organizados e estruturados. Existem organizações já prontas, montadas e às quais cada profissional poderia se juntar; estou falando das cooperativas tipo Uniodonto ou similares.

    Não precisamos entrar no mérito se a Uniodonto é boa ou ruim... não estou preocupado com ela especificamente, mas com a ideia de organização e de cooperação. Crie sua própria cooperativa, se for o caso... junte seus colegas de turma, amigos, ex-alunos, sei lá... tranquem-se numa sala e discutam o quanto for necessário sobre soluções para questões comuns que enfrentam, sobre as dificuldades de realizarem a odontologia que tanto querem e então sobre alternativas a elas, soluções que poderiam empreender para resolvê-las.

    Por que em conjunto?? Porque muitas das soluções têm custo, ou de $$$$, ou de tempo, disposição, energia etc. Mas fazendo em conjunto, dividindo tarefas, rateando a conta, é bem provável que consigam efetivar as soluções. Tenho certeza que muitas alternativas para melhoria das condições de trabalho de vocês, você Ju já tem boas ideias na cabeça, assim como outros colegas. A ideia da cooperação é simplesmente empreender um meio de colocá-las em prática..


    Nossa, isso que é comentário, hem... e nem tinha chopp na mesa. Um beijo.

    PS: Vou mandar seu texto para a esposa do meu pai, Fática, ok?

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  2. Concordo plenamente. Acrescento ainda que a dinâmica do IMBRA até era muito interessante, mas os profissionais contratados para a VENDA, ou melhor o planejametno, eram muito inexperientes, planejando o impossível.

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  3. Marcelo,
    Achei a ideia da cooperativa fantástica! De fato, muitas vezes, nós dentistas, somos um pouco "preguiçosos", principalmente no que tange a parte administrativa da coisa. Só quero esclarecer que, a IMBRA não era um convênio doontológico. Em breve farei um post apenas sobre convênios, pois já fui "vítima" deles.
    A ideia do meu blog é justamente fazer as pessoas pensarem à respeito, portanto envie o texto à quantas pessoas achar interessante.
    Obrigada pela participação!

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  4. Ah, é Marcelo BARROSO, viu... mero detalhe, né.

    Eu sabia que a Imbra não era convênio, mas acho que caem num mesmo grupo: empresários que vislumbraram a possibilidade de ganhar dinheiro por meio do trabalho dos cirurgiões dentistas. Claro que não há problema no ganhar dinheiro em si, mas na forma. Como intermediários entre o profissional e o cliente, essas empresas saem ganhando mais do que ambos, que são no fim das contas os mais interessados da história toda.

    A essência do meu comentário recai no seguinte: é possível ganhar dinheiro E prestar uma boa odontologia, claro. Mas para isso, tem que colocar a roupa de empresário por baixo do jaleco de dentista e tocar o consultório como um negócio; e então, fazer o que for necessário para SUBSTITUIR os intermediários. Veja bem, se os intermediários (empresários da odontologia, convênios e afins) não tivessem alguma serventia, algum valor, já teriam desaparecido naturalmente. O papel que eles cumprem é válido, tanto é que estão dominando a atividade de vocês. Ok, então que os próprios dentistas assumam esse papel, substituindo-os. Uma forma de fazer isso, na minha opinião viesada, é por meio da cooperação entre os pares.


    Beijo... valeu.

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  5. Cara Dr. Jú.
    Acho uma completa ignorÂncia de sua parte querer discordar da politica de comércio/negócio.
    A odontologia, a medicina e qualquer outra atividade profissional é um negócio, a não ser que vc nao cobre nada, que se torna uma ação voluntária... Pelo que parece, vc cobra, entao vc também é negociante, e nao bem feitora.
    Acho ridiculo da parte das pessoas falar que não é captalista, sendo que tem um carro importado na garagem. Que o seu caso é quase igual. critica uma impresa/instituição, sendo que vc usa seus clientes como seu negocio, ou captal como preferir. Aposto que se te chamasse para prestar serviços a IMBRA, e ganhasse bem, você aceitaria, e vestiria a camisa... Entao nao se passe de hípócrita.
    Gostei dos seus outros posts, mas esse foi algo a se criticar.
    Tambem acho que dentista não é doutor, dentista é apenas dentista... Doutor é quem estuda de verdade, e consegue doutorado?

    Boa sorte nos proximos posts.

    Renato.

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  6. Olá, Renato! Muito obrigada pelo comentário, isso só engrandece o blog...
    Não sei se ficou claro, talvez não, pelo seu comentário, mas eu acho sim que a odontologia deve ser tratada como um negócio!!! Apenas comentei com relação ao respeito ao paciente... Eu sou capitalista sim, meus pacientes fazem parte do meu negócio sim, mas sabendo como as coisas funcionam dentro da IMBRA eu, infelizmente, não faria parte da equipe de profissionais de lá, por não concordar com a forma como as coisas são conduzidas. Não entendo o porque você me chama de hipócrita...
    Concordo com você quando diz que "... dentista não é doutor, dentista é apenas dentista... Doutor é quem estuda de verdade e consegue doutorado", dessa forma, se você preferir, pode me chamar apenas de "Mestre Jú", ok?!
    Mais uma vez, muito obrigada pelo comentário. Seja sempre boem-vindo!

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  7. Bem..se me permitem, vou dar um putaco nessa conversa. Eu tb. tinha pensado em não comentar mais nada sobre a IMBRA, porém, tem assunto que ferve um pouco dentro da gente. Mestre Ju querida..vc. tem absoluta razão e Renato...o foco principal não é gostar ou não do dinheiro...Como dizia Cacilda Becker - todo trabalho deve ser remunerado, de preferência bem remunerado quando é feito com qualidade por profissionais que investem em suas carreiras.
    Isto posto - a questão da IMBRA todo mundo sabia era missa encomendada desde o início. O que "pegou" foi a ganância e o que ninguém discute nesse instante é o que fazer com o milhão de pacientes que estão na rua da amargura, sem nenhuma condição de finalizar o tratamento, cirurgias, próteses, implantes, etc. DETALHE - JÁ PAGARAM POR ISSO. Como bem disse a Mestre Ju (parece kung fu...ahahah) FALTA DE RESPEITO. Código do Consumidor na mão: Em última análise cada profissional é responsável pelo serviço, independente da relação trabalhista ou financeira que mantinha com a instituição. Boca no trombone, sim! tank you.

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  8. Muito bem observado... A questão é que a maioria dos Dentistas que não estuda, (vi que vc é uma excessão), se julgam doutores, isso que me deixa inconformado...
    Se uma instituição está no mercado, é para ganhar dinheiro... Ninguém, ainda mais brasileiro, gosta de ajudar muito as pessoas. Eu por exemplo não vou divulgar, e fazer meu trabalho de graça.
    Tudo hoje em dia é a base de troca, serviços por dinheiro, produtos por dinheiro e etc. A IMBRA e muitas outras instituições são alimentadas por clientes sem informações, por isso pagam caro. Se ela deu o preço, e tem muitos clientes, aposto que ninguém coloca na cadeira a amarra a pessoa para realizar o tratamento.
    Hoje em dia não compramos o produto, e sim a marca. (Creio que todos sabem disso)
    Talvez a IMBRA atualmente seja o monopólio, pode ser que vc não está conseguindo analisar essa hipótese. Quando se tem o monopólio, podemos obviamente monopolizar as taxas. Exemplo a Globo, que antigamente era o monopólio da informação... Se divulgassem que o Presidente lula tinha declarado guerra com o paraguai. (EXEMPLO BESTA, Só para explicar). é obvio que todos iriam acreditar, é o monopolio querendo ou nao.
    Se a imbra tem suas taxas, e for o monopólio. é obvio que terá clientes que pagarão por isso.


    Renato.

    Agradeço pela sua resposta,

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  9. Oi, Dra Ju! Tudo bem?!

    Não se sinta mal ao falar dessa empresa, assim como outras desse tipo que seguem o mesmo caminho... Também sou dentista, tenho o mesmo tempo de formada que ti, e também passei por algumas desilusões...

    Realmente é muito dificil manter um consultorio em época que se vende tratamento odontologico em programa de televisão. Me decepcionei muito com a odontologia, no seu termo mais comercial, digamos assim (sim, não podemos negar, temos um negócio!). Mas descobri que amo minha profissão de formação, justamente quando tentei me afastar dela!

    Hoje não vivo só da odontologia, e aliás, hoje, ela já não é mais minha principal fonte de renda. Mas não consigo abandona-la de vez, e fico muito triste quando vejo na televisão outras "imbras" fazendo sua propaganda, e nada é feito a respeito... Até que ponto, também, não somos um pouco culpados por isso?... a grande maioria de nós assiste a tudo na "janelinha", não comparece as reuniões de orgãos da classe, e ainda se submete a trabalhar em lugares assim!!!!!

    Parabéns pelo blog!!!

    bjs,

    Carmen

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  10. Olá Carmen! Muito obrigada pelo comentário...
    Acho que nunca tinha lido uma definição tão verdadeira como a que você deu: "...Me decepcionei muito com a odontologia, no seu termo mais comercial... Mas decobri que amo minha profissõ de formação..." É exatamente o que sinto!
    Parabéns pela coragem de assumir que as coisas não andam tão boas assim para a nossa classe. Estou cansada de conversar com colegas que parecem viver em outro "mundo odontológico", tamanha felicidade com a profissão.
    Continue lendo e, principalmente, participando!
    Um grande beijo
    Dra. Jú

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